Você sabe como desenvolver um perfil empreendedor?

Até pouco tempo atrás, eu achava que essa história de “perfil empreendedor” era apenas um termo sofisticado para dizer aos outros que tínhamos um negócio próprio. Eu estava enganado. Refletindo sobre toda a minha experiência e o modo como eu encarava meu trabalho, percebo, agora, que é uma habilidade essencial para quem deseja sucesso como autônomo.

Antes de tudo, preciso me apresentar: meu nome é Charles, tenho 35 anos e sou chaveiro. Estou nesse ramo desde os 18, quando eu ajudava meu tio com o negócio dele. No começo, eu atuava apenas como motoboy, fazendo pequenas entregas de encomendas de clientes. Com o tempo, fui me interessando mais pelos serviços. Ele tinha paciência de ensinar, e eu, vontade de aprender.

Herdei a loja do meu tio. Ela é pequena, mas muito bem localizada, fica perto do centro da minha cidade. Apesar de sempre ter gostado muito do que faço, eu enfrentava uma série de desafios no meu dia a dia.

Vou contá-los, aqui, por partes. É só seguir na leitura!

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O começo de tudo

Bem, eu me considero uma pessoa simples. Então, nunca achei que fosse me dar bem se eu tentasse modernizar demais meus serviços: sempre soube fazer o básico, nunca tive reclamações sérias de clientes e o dinheiro nunca chegou a sobrar, mas sempre dava para pagar as contas. Então, para que mudar?

Oferecer algo inovador nos meus serviços? Sempre tive o pensamento de que isso não tinha muito a ver comigo. Talvez servisse para os mais jovens, mais habituados com tecnologia e que estão começando a carreira agora.

Por isso, de vez em quando, eu precisava dispensar alguns fregueses que desejavam um serviço mais elaborado. Um deles foi o de fazer cópia da chave de uma Mercedes, que o dono perdeu em uma festa. Eu até tenho uma noção de realizar cópias de chaves codificadas, mas esses carros mais modernos têm uma técnica diferente.

Já cheguei a receber, por e-mail, algumas propagandas sobre cursos profissionalizantes na área. Confesso que nunca dei bola. Para mim, eram pura besteira e não me levariam a lugar nenhum. 

Os desafios verdadeiros

Contudo, o problema mesmo não era nem esse. Há poucos meses, mudou-se aqui para perto outro chaveiro. Ele tem um quiosque simples, mas já chegou atrapalhando. Você acredita que ele teve o atrevimento de oferecer todos os serviços por um valor mais baixo que o meu?

Bem, você deve imaginar o que aconteceu, né? Chegava cliente, perguntava quanto eu cobrava e, depois, dizia que o João da esquina era mais barato. Para não perder serviço, eu me via obrigado a fazer pelo mesmo preço. 

Apesar disso, comecei a me ver cada vez com menos fregueses. Certo dia, já cansado dessa situação, resolvi fazer diferente. Ele queria guerra de preços? Então, ele teria. Coloquei uma placa grande, na frente da loja, com minha nova tabela de valores. Foi ótimo: choveram clientes! Porém, a festa durou só duas semanas.

O tal João da esquina realmente havia entrado na disputa. Colocou outra placa, no quiosque dele, com preços ainda mais baixos que os meus. Fiquei sem reação. Às vezes, aceitava cobrir um serviço ou outro. Contudo, com preços mais baixos e menos clientela, meu lucro também diminuiu. As contas em casa chegavam e iam se acumulando.

O início das mudanças

Passei noites sem dormir. Minha esposa, Lu, preocupada, tentava propor algumas soluções: mudar de localidade, tentar outro ramo… Porém, nada me fazia sentir segurança de que as coisas dariam, realmente, certo.

Uma vez, ela chegou em casa bastante animada. Disse que tinha uma novidade para me contar e que poderia ser a oportunidade que estávamos procurando.

— “É um curso online de chaveiro”, ela disse. “Pelo que vi, eles explicam algumas táticas mais modernas, como fazer cópia de chave codificada, com uma tecnologia mais avançada. Também ensinam estratégias para ter um pensamento e comportamento de perfil empreendedor”. 

Ela me contou que o marido de uma amiga, que mora em outra cidade, havia feito o curso e estava se dando muito bem. A loja dele cresceu tanto, que foi parar até no Instagram. 

— “Mas eu não preciso abrir uma rede social para meu negócio! Só quero encontrar um jeito de fazer esse João da esquina parar de roubar meus clientes”, eu disse.

— “Já comprei as aulas e inscrevi você! Não custa tentar, Charles!”. 

Meio contrariado, fui lá assistir a essas tais aulas, pela internet. Confesso que só aceitei para ela não ficar no meu pé. Bem… fiquei surpreso com tudo o que aprendi. Compartilho alguns aprendizados a seguir.

Como ter um perfil empreendedor

Não gosto de admitir, mas minha mulher estava certa. Nunca imaginei que eu fosse ver tantas informações relevantes e poder aplicá-las no meu dia a dia como chaveiro. Para ter um perfil empreendedor, precisamos ter uma mentalidade diferenciada e adotar algumas das atitudes abaixo. 

Ter metas

É fundamental definirmos metas para o negócio. É a partir delas que traçamos os planos a serem aplicados no caminho. Isso significa mais do que, simplesmente, delinear a rotina do dia a dia com os clientes a serem atendidos.

Precisamos pensar: onde queremos estar daqui a dois anos? E daqui a cinco? E daqui a 10? Seremos felizes se, daqui a 15 anos, a loja ou a oficina estiver lucrando o mesmo que agora? O que podemos incluir na rotina do trabalho para crescermos?

Os objetivos estabelecidos nos ajudam a focar os resultados, fazendo com que não desistamos no meio das dificuldades. Com metas bem definidas, sempre sabemos o próximo passo a ser dado.

Ter uma visão de mercado

Estabelecer uma visão de mercado demanda mais profissionalismo. As atitudes e decisões passam a ser baseadas em dados reais, não em opiniões pessoais. Por exemplo, você sabe dizer, com clareza, informações referentes a seus clientes, como preferências ou dificuldades? Sabe os pontos fortes e os fracos dos seus concorrentes?

Ao identificarmos o perfil da clientela, temos mais condições de oferecer serviços que superem as expectativas. Ao conhecer a concorrência, podemos adotar estratégias que nos fortaleçam e viabilizem nosso crescimento e lucro.

Explorar criatividade

Explorar a criatividade é o atributo das empresas que procuram sempre inovar e estudar as oportunidades de mercado. No caso de um chaveiro, não adianta apenas disponibilizar os serviços mais básicos e querer sobressair. 

Pense comigo: se fizermos exatamente a mesma coisa que o nosso concorrente ao lado, que motivos daremos ao cliente para sermos a preferência dele? Precisamos encontrar formas de oferecer algo de mais valor, fazendo diferente.

Ser proativo

Essa foi uma das minhas primeiras falhas. A proatividade tem a ver com agir antecipadamente, evitando que ameaças atrapalhem nossos resultados. É ter atitude para ultrapassar as barreiras antes de ser paralisado por elas. 

No meu caso, eu apenas reclamava em casa e ficava sem dormir. No máximo, baixava os preços, ainda que isso não trouxesse resultados duradouros.

Atualizar-se

Ter pensamento e comportamento de perfil empreendedor é, também, atualizar nossas capacidades, investindo mais em nós mesmos com cursos profissionalizantes.

Talvez por receio ou falta de confiança, eu mantive minha loja e meus conhecimentos do mesmo modo por anos. Isso me fez perder a oportunidade de atender clientes promissores. As mudanças tecnológicas modificam as necessidades da clientela. Precisamos ficar atentos a isso.

Minhas recompensas

Com grandes aprendizados, vêm grandes recompensas. Aos poucos, apliquei algumas estratégias à minha empresa e inovei meus serviços. Dei-me conta de que era preciso deixar aquela insegurança de lado. Adquiri ferramentas mais modernas, apropriadas para a cópia de chaves codificadas mais avançadas.

Também, estruturei melhor o espaço, oferecendo mais conforto a quem chegasse à minha loja. Investi, ainda, em marketing digital, para trabalhar melhor a marca. Com isso, consegui clientes mais fiéis, além de outros pedindo serviços avançados. 

Até então, eu não tinha me dado conta, mas, dependendo do serviço especializado que faço, ele chega a equivaler a 50 daqueles mais simples. Ganho produtividade e lucro. Assim, percebi que trabalhar com preços mais baixos não é sustentável por muito tempo. O engraçado é que, agora, o João da esquina não consegue entender como eu cobro mais caro e, ainda assim, tenho mais clientes.

Ter um perfil empreendedor é muito mais do que ser dono do próprio negócio. É ter hábitos e uma mentalidade saudável, condizente com as necessidades de mercado. 

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